As doenças inflamatórias intestinais (DII) englobam a retocolite ulcerativa e a doença de Crohn que são doenças crônicas que causam inflamação no trato gastrointestinal. A nutrição desempenha um papel crucial no manejo dessas doenças, ajudando a reduzir a inflamação, a manter o estado nutricional adequado, a prevenir deficiências nutricionais, a promover a cicatrização da mucosa intestinal e a melhorar a qualidade de vida dos pacientes. Uma dieta bem planejada pode modular a resposta imunológica, gerenciar sintomas gastrointestinais e contribuir para uma microbiota intestinal saudável, sendo essencial a personalização das recomendações nutricionais para atender às necessidades individuais de cada paciente.
Manter um estado nutricional adequado é fundamental para pacientes com DII, pois essas condições frequentemente resultam em má absorção de nutrientes e perda de peso. Uma dieta equilibrada, rica em proteínas, carboidratos complexos, gorduras saudáveis, vitaminas e minerais é crucial para manter a saúde geral e a energia dos pacientes. Proteínas de alto valor biológico, encontradas em carnes magras, ovos, peixes e leguminosas, são essenciais para a reparação dos tecidos e a manutenção da massa muscular. Carboidratos complexos, como arroz, batatas, macarrão, aipim e quinoa fornecem energia. Gorduras saudáveis, como as encontradas no abacate, azeite de oliva, óleo de canela e nozes, são importantes para a saúde celular e a absorção de vitaminas lipossolúveis. A manutenção de um estado nutricional adequado ajuda a fortalecer o sistema imunológico, melhorar a cicatrização e aumentar a resistência física.
A prevenção de deficiências nutricionais é um aspecto crítico no manejo das DII, dado que a inflamação crônica e a má absorção podem levar a deficiências de vitaminas e minerais essenciais. O monitoramento regular dos níveis de nutrientes no sangue é fundamental para identificar e corrigir deficiências. Suplementos de vitaminas e minerais, como ferro, vitamina B12, vitamina D e cálcio, podem ser necessários para garantir que os pacientes mantenham níveis adequados desses nutrientes, sendo sempre indicados quando há presença de deficiências.
A nutrição adequada pode ter um impacto significativo na qualidade de vida dos pacientes com DII. Aliviar os sintomas gastrointestinais, como dor abdominal, diarreia ou constipação e distensão abdominal, por meio da identificação e eliminação de alimentos desencadeantes, pode melhorar o bem-estar geral. Comer pequenas refeições frequentes ao longo do dia pode ajudar a reduzir a carga sobre o sistema digestivo e melhorar a absorção de nutrientes. Além disso, uma dieta equilibrada pode aumentar os níveis de energia, permitindo que os pacientes realizem suas atividades diárias com mais facilidade e conforto. A hidratação adequada também é crucial, especialmente durante crises de diarreia, para evitar a desidratação e manter o equilíbrio eletrolítico. A organização de um planejamento alimentar individualizado é fundamental para avaliar e manejar os sintomas individuais de cada paciente.
A gestão eficaz dos sintomas gastrointestinais é essencial para melhorar a qualidade de vida dos pacientes com DII. A identificação de alimentos que causam desconforto e sua exclusão temporária da dieta pode ajudar a reduzir sintomas como dor abdominal, diarreia e inchaço. Alimentos ricos em fibras solúveis, como aveia, maçã e cenoura, podem ajudar a regular o trânsito intestinal e reduzir a diarreia. Por outro lado, durante crises agudas, pode ser necessário reduzir a ingestão de fibras insolúveis, encontradas em alimentos como grãos integrais e vegetais crus, para minimizar a irritação intestinal, as quais são responsáveis pelo aumento do fluxo hídrico no intestino, piorando os quadros de diarreia. Manter um diário alimentar pode ser uma ferramenta útil para identificar padrões e sintomas, além de ajustar a dieta conforme necessário.
Cada paciente com DII é único, e suas necessidades nutricionais podem variar significativamente conforme a fase que se encontra a doença. A personalização da dieta com base nas preferências alimentares, fase da doença, tolerâncias e necessidades específicas é essencial para um manejo eficaz. Consultar um nutricionista especializado pode ajudar a desenvolver um plano alimentar personalizado que atenda às necessidades individuais de cada paciente. Além disso, a flexibilidade na dieta é importante para acomodar mudanças nos sintomas e nas condições de saúde ao longo do tempo. A adaptação contínua da dieta, com base no feedback do paciente e no monitoramento regular dos níveis de nutrientes, pode ajudar a otimizar a saúde e o bem-estar dos pacientes com DII.
O glúten é uma proteína encontrada em cereais como trigo, cevada e centeio. Em indivíduos com doença celíaca, a ingestão de glúten provoca uma resposta alérgica imunológica que danifica o revestimento do intestino delgado. Embora a doença celíaca e as DII sejam condições distintas, há uma sobreposição significativa nos sintomas, como dor abdominal, diarreia e perda de peso, o que pode levar a confusão no diagnóstico.
Para pacientes com DII que apresentam sensibilidade ao glúten, a exposição pode exacerbar os sintomas, mesmo na ausência de doença celíaca. Estudos sugerem que uma dieta isenta de glúten não apresenta benefícios para pacientes com DII e portanto, não deve ser eliminado de forma generalizada. Assim, a avaliação individualizada do paciente é extremamente necessária, sendo excluído de forma temporária somente naqueles que apresentarem piora dos sintomas gastrointestinais com o consumo de glúten.
A lactose é um açúcar encontrado no leite e em produtos lácteos. A intolerância à lactose ocorre quando o corpo não produz a enzima lactase suficientemente, necessária para digerir a lactose. Isso pode levar a sintomas como diarreia, gases, inchaço e dor abdominal. Durante a fase ativa da doença de Crohn pode ocorrer intolerância à lactose transitória, ou seja, devido às lesões constantes da mucosa intestinal, as células responsáveis pela produção da lactase estão danificadas e a produção da lactase é reduzida, surgindo, assim, os sintomas de intolerância. Estudos sugerem que não há relação entre consumo de lactose e DII, portanto não deve ser eliminada de forma generalizada, somente naqueles com intolerância transitória e avaliada de forma individualizada o momento de reinserção na dieta.
As estenoses intestinais, ou estreitamentos do intestino, são complicações comuns em pacientes com DII, como a doença de Crohn. Esses estreitamentos podem resultar de inflamação crônica, cicatrização e formação de tecido fibroso, levando a uma obstrução parcial ou completa do intestino. A gestão dietética é crucial para minimizar os sintomas, prevenir complicações e melhorar a qualidade de vida dos pacientes com estenoses. A seguir, discutiremos as diretrizes dietéticas e considerações importantes para esses pacientes.
Maior ingestão de alimentos ultraprocessados está associada a um maior risco de desenvolvimento de DII. Além disso, o consumo frequente desses alimentos pode levar à redução do tempo de remissão da doença. Uma metanálise, baseada em dados de quatro estudos, encontrou um aumento de 47% no risco de DII em adultos que consumiam grandes quantidades de alimentos ultraprocessados, em comparação com adultos de grupos controles
Alimentos ultraprocessados são formulações industriais produzidas inteiramente ou majoritariamente por substâncias extraídas de alimentos (óleos, gorduras, açúcar, amido e proteínas), ou derivadas de seus constituintes (gorduras hidrogenadas, amido modificado), ou sintetizadas em laboratório (aditivos alimentares). Incluem produtos embalados, refrigerantes e bebidas adoçadas, cereais açucarados, refeições prontas contendo aditivos alimentares, carnes processadas e embutidos (salame, presunto, mortadela, peito de peru, nuggets), macarrão instantâneo, bolachas recheadas, salgadinhos, algumas marcas de barras de cereais e sorvetes. Os principais aditivos que devem ser evitados são: carboximetilcelulose, polissorbato 80 (P80), carragena e maltodextrina. Fique atento aos rótulos!